segunda-feira, 14 de junho de 2010

POR UMA EPISTEMOLOGIA DO TURISMO


Segundo Marutschka Moesch, o turismo surgiu como atividade de lazer no ano de 1960, se desenvolvendo junto ao capitalismo, é uma relação de produto e serviço. O produto turístico é o atrativo, e o que o envolve está ligado a prestação de serviços trazendo interferências na economia, na política, na cultura e na vida social da comunidade.

O conceito de Turismo se modificou com o passar dos anos, várias teorias foram elaboradas, mas a mais aceita mundialmente é a da OMT (Organização Mundial do Turismo):

“Soma de relações e serviços resultantes de um câmbio de residência temporária e voluntário motivado por razões alheias a negócios ou profissionais”

Esse conceito é simplificado com dimensões qualitativas e quantitativas complexas.

“A escola portuguesa sustentada pelas obras de Baptista, define o turismo pelo conceito de turista, sendo o turista o individuo em viagem cuja decisão para o deslocamento foi tomada com bases em percepções, interpretações, motivações, restrições e incentivos, representando manifestações, atitudes e atividades relacionadas a fatores psicológicos, educacionais, culturais, técnicos, econômicos, sociais e políticos” (MOESCH, p. 12).

O avanço do Turismo permite o desenvolvimento das diferentes regiões, tomado como uma atividade de forte apelo econômico gerando a necessidade de hotéis, estradas, comunicação, restaurantes, artesanato, entretenimento, gerando bens e serviços que são oferecidos aos turistas gerando mais mão-de-obra. Portanto, se o Turismo for entendido como uma atividade econômica seu diagnóstico passa a conter índices estatísticos, projeções de crescimento, planos e projetos, em nível macro e micro, estudos de demandas, viabilidade econômica de investimento, custo benefício entre produção e consumo, reduzindo-se a uma análise aparente do fenômeno.

Para a escola italiana, o conceito deve ser tratado como cientifico ao fenômeno, por representar uma nova ciência no qual o objeto pertence a ciências sociais. O foco principal do Turismo é de caráter humano, pois são os homens que se deslocam e o turismo acontece pelas inter – relações humanas.

O desenvolvimento da atividade turística no Brasil, fez com que, de modo especifico no Brasil despertasse interesse nos setores privados, empresariais e em universidades.

Com o passar dos anos, diversos estudos e pesquisas foram desenvolvidas para o saber turístico, foi então percebida a interdisciplinaridade de seu objeto, porem, não existe uma clareza epistemológica para as teorias turísticas dentro da academia.

Beni (1998), citado por Moesh, foi um contribuidor essencial para a construção metodológica criando o sistema turístico.

Hoje em dia, existe um apelo grande dos publicitários na intenção de fazer as pessoas viajarem, sempre na busca do diferente e nas experiências prazerosas e na quebra de rotina.

As categorias que expressam a sua estrutura vão além do tempo, espaço ou consumo em uma dimensão comunicacional, econômica, tecnológica, ideológica, imaginária, prazerosa e subjetiva. A crise no estatuto do saber científico abriu espaço analítico qualificado para aprofundar as causas que restaram um fazer-saber no turismo, senão um saber-fazer. Sabe-fazer direciona novos estudos turísticos como a motivação, as escolhas, as necessidades, o prazer, as diferenças suportáveis, entre outros.

O objetivo da ciência passa a ser a busca do poder sendo também um cenário em que o saber se mercantiliza passando-se de um processo de prescrição das condições estabelecidas pela consistência interna e verificação experimental, para uma relação in put/out put, ou seja, a administração da prova, no que está em questão é o desenvolvimento e o melhor desempenho.

O saber narrativo passa a ser uma forma excelente de saber. Para grupos sociais ou para humanidade, não basta conhecer, é preciso formular prescrições, tendo pretensão do seu uso para garantir a justiça.

O saber-fazer impõe o aprofundamento dos conhecimentos transcorridos.

Durante muitos anos tenta-se compreender o saber turístico, sendo na academia e no mercado produtivo, na teoria funcionalista o Turismo como um subsistema tem um sistema maior: o econômico.

O Capitalismo como redutor do saber turistico - ago/04

Estudos turísticos sob a égide econômica, possuem vasta bibliografia visto a necessidade do mercado em obter dados estatísticos do setor e técnicas de melhor aproveitamento da aplicação do fenômeno turismo, no que diz respeito a sua lucratividade.

Diversos livros técnicos ocupam as bibliotecas tornando a pesquisa acadêmica de fácil acesso a estudos de caso e dados do setor ao longo da historia do turismo no âmbito sócio-espacial. Porem o estudo do turismo requer que nós acadêmicos alcemos vôos maiores levando ao campo de estudo epistemológico do fenômeno, o exercício epistêmico consiste em avaliar cientificamente como o saber do turismo se forma e qual a sua origem e sua finalidade. Um estudo epistemológico requer um aprofundamento em sua interdisciplinaridade, ou seja, utilizar as outras ciências que se inter-relacionam com o fenômeno turismo, se ficarmos restritos ao estudo econômico do turismo iremos limitar nosso campo de saber e iremos limitar o estudo do turismo a um subsistema econômico.

É de grande valia obras já realizadas nas disciplinas ligadas ao turismo como a geografia, sociologia, filosofia, economia, entre outras em que o turismo repercute, mostrando claramente a dinâmica do turismo no espaço e na sociedade.

O campo epistemológico do turismo ainda é pouco explorado dado à pequena quantidade bibliográfica encontrada sobre o assunto, mas isso não quer dizer que ele não seja importante, pois existem pessoas interessadas no tema e livros já publicados na área, basta um interesse de nós estudantes para que se instrua melhor no assunto, pois até instituições ligadas ao turismo já apresentam incentivos ao estudo epistemológico do turismo através de bolsas de estudo.

A dinâmica do fenômeno turismo, na economia ofusca um estudo maior em sua face interdisciplinar tendo em vista a necessidade das empresas em mão de obra com formação técnica, o que conseqüentemente acaba limitando o nosso conhecimento ao saber-fazer e esquecendo o fazer-saber, que requer mais interesse de nossa parte para obter um maior entendimento e embasamento do fenômeno turismo.

Mas o estudo epistemológico é importante?
De certo esse negócio de estudo epistemológico do turismo a priori pode ser um tanto complexo e não vemos como aplicá-lo tecnicamente no mercado turístico, mas essa compreensão do fazer-saber se reflete como um maior conhecimento do fenômeno por nós futuros profissionais em consultorias e no ensino acadêmico, pois teremos uma total visão da abrangência do impacto do turismo no espaço e na sociedade, ultrapassando o conhecimento empírico já tão difundido no projeto político-pedagógico das instituições de ensino do turismo.

O estudo epistemológico não é tarefa fácil, pois temos poucos livros editados, o que requer de nós interesse no assunto em pesquisar em outras áreas do conhecimento ligadas ao turismo para então desvelarmos a epistemologia do turismo.
Vamos dar maior credibilidade ao estudo do turismo, quebrando os limites criados ainda que inconscientemente pelo crescimento econômico proporcionado pelo fenômeno e alcançar a base dessa maravilhosa ciência, a ciência do turismo.

Autor: Daniel da Rocha Ramos
Estudante do Curso de Turismo da Faculdade Estácio de Sá de Vitória

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